De que maneira a sua organização trabalha a relação entre as mídias sociais e os sindicatos? Para alguns dos principais especialistas do mundo no tema, esta é uma questão chave para a sobrevivência das associações organizadas para defender os direitos dos trabalhadores.

No final de 2018, a consagrada revista britânica ‘The Economist’ trabalhou – com números consistentes – a temática em um artigo nomeado de ‘A tecnologia e o renascimento dos sindicatos’.

Para traçar essa ligação intrínseca entre o avanço tecnológico e essas organizações, o trabalho traçou uma linha tênue entre a cultura de individualização-personalista promovida pelos algoritmos da grande rede e a sua capacidade de conectar desejos e anseios comuns.

Pela relevância do tema no atual momento sindical brasileiro, a Pandora resolveu revisitar o tema e contextualiza-lo para orientar os dirigentes do país a abordarem de maneira mais efetiva esse elo entre as mídias sociais e os sindicados.

 

Os números do processo de declínio e ressurgimento dos sindicatos na era da tecnologia

Em seu artigo, a The Economist trouxe dados intrigantes sobre as mudanças de relacionamento entre os sindicatos e os trabalhadores da maior economia capitalista do mundo: os Estados Unidos (EUA).

Inicialmente, o trabalho mostrou a relação diretamente proporcional entre o avanço da industrialização e da urbanização nos EUA e o movimento sindical do país na primeira metade do século XX.

“Nos Estados Unidos, a adesão aos sindicatos, que era de 10% em 1915, chegou a um pico de 30% em 1950”, afirmou.

Logo na sequência, a revista britânica trouxe, também em números, aquilo que chamou de ‘declínio das instituições sindicais’ já no final dos anos 1900. Processo que, segundo o trabalho, adveio, antes de tudo, do discurso de modernização da economia disseminado pelas economias liberais – que passou a ser ancorada em um sistema de ‘produtividade individual’ e não mais da produção massificada de uma ‘classe trabalhadora’.

De acordo com a The Economist, este novo conceito econômico – somada à repressão sindical e propaganda negativa promovida por governos como de Margareth Thatcher, na Grã-Bretanha, e de Ronald Reagan, nos EUA – fez com que a taxa de adesão dos trabalhadores dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) aos sindicatos despencasse para 18% no final dos anos 1980.

Essa noção fragmentada da força de trabalho. Ou seja, da diminuição da consciência de classe, ainda perdura – em certo grau – nos dias atuais.

No entanto, um ressurgimento deste processo identitário de coletividade a partir da relação entre redes sociais e sindicatos chamou a atenção da revista como um mote para o renascimento dos sindicatos

 

Redes sociais e sindicatos: a tecnologia como propulsora da luta pelos interesses coletivos 

Durante o início da década de 2010, movimentos populares de grande relevância no cenário político mundial passaram a chamar a atenção de estudiosos das áreas de sociologia e ciência política.

Da primavera árabe ao famoso ‘julho de 2014’ no Brasil, todos estes movimentos possuíam uma característica comum: eles se iniciavam nas redes sociais e por lá eram agendados.

Sem fazer juízo de valor sobre o bom-senso de alguns dos movimentos populares organizados na ‘social media’ desde então, a The Economist detectou que esta aglutinação de interesses por meio dessas plataformas já estava ocorrendo para assuntos ‘além do macro’.

“O uso da mídia social está tomando o lugar das reuniões no chão da fábrica por meio da chamada “ação conectiva”. Facebook, Reddit e WhatsApp, e outras ferramentas como Hustle, serviço de texto, permitem a grupos de trabalho realizarem três coisas: coletar informação, coordenar os trabalhadores e informar sobre campanhas para o mundo em geral”, analisou o artigo da revista britânica.

Em suma, o artigo apontou que estes novos canais de organização devolveram aos trabalhadores parte da consciência de classe perdida a partir da disseminação massificada do liberalismo-individualizado.

Assim, esta logica ‘conectiva’ tem possibilitado que essa ligação conceitual entre redes sociais e sindicatos passasse a – aos poucos – superar as fronteiras do ‘conceito’. Isto é, fortalecer – na prática – os sindicatos e o relacionamento com as bases.

 

Cases ao redor do mundo

Para exemplificar este movimento de cooperação entre redes sociais e sindicatos, a The Economist trouxe os seguintes dados de cases ao redor do mundo:

– Dos 658 trabalhadores online na África Subsaariana e no Sudeste Asiático, 58% disseram estar em contato digital com outros trabalhadores pelo menos uma vez por semana, principalmente na mídia social;

– Na Virginia Ocidental (EUA) os professores criaram um grupo no Facebook aberto apenas para colegas convidados. Quase 70% dos 35 mil professores se cadastraram. O grupo se tornou o centro de discussões sobre o que exigir e como organizar os protestos como uma grande greve em meados de 2016;

– Criado em 2013, o site ‘Coworker.org’ ajuda os trabalhadores a condensarem suas demandas em uma petição e as difundirem na mídia social. Hoje, o serviço é usado pelos empregados de mais de 50 empresas.

 

Lições do movimento para os sindicatos brasileiros

Mais do que simplesmente retratar um movimento global ancorado na relação entre redes sociais e sindicatos, o artigo da The Economist retrata o poder do preenchimento das lacunas de engajamento entre os trabalhadores por meio da tecnologia.

Ou seja, sindicatos brasileiros que possuem dificuldades na hora de engajar suas bases, podem – a partir do uso da tecnologia – aproximar seus associados (e possíveis associados) de sua agenda de luta diária.

Para tanto, é preciso oferecer proximidade e facilidade de organização por meio da digitalização dos canais. Grupos de WhatsApp, fóruns no site institucional, realização de reuniões e assembleias remotas e híbridas… Tudo isso é meio para fazer reviver o sentimento de pertencimento entre os associados.

Dentro deste contexto, a Pandora se dispõe a auxiliar o universo sindical brasileiro a partir de suas soluções digitais.

Sim, a partir de suas plataformas como o Panágora, sistema de votação digital que possibilitou que dezenas de organizações realizassem eleições durante a pandemia. Mas não só.

Também com a expertise adquirida após décadas de contribuição para a digitalização dos sindicatos do país!